As vantagens do BIM para o neg�cio da constru��o
Ao permitir a constru��o virtual dos edif�cios antes que eles sejam erguidos no terreno real,
o BIM (Building Information Modeling) tem prometido revolucionar a �rea t�cnica das empresas de constru��o no Brasil. Por meio da cria��o de um modelo 3D que congrega todas as disciplinas de projetos, � poss�vel detectar antecipadamente as incompatibilidades construtivas. O modelo permite extrair quantitativos autom�ticos dos materiais e, integrado a informa��es de custos e prazos, estudar sequ�ncias construtivas, simular alternativas tecnol�gicas, melhorar a log�stica de canteiro, entre in�meras outras possibilidades que devem mexer com a produtividade das empresas.
Embora a modelagem da informa��o da constru��o - como foi traduzido o termo BIM - esteja mais arraigada em pa�ses do hemisf�rio norte, algumas empresas brasileiras j� come�am a estudar a implanta��o da tecnologia. A Matec e a M�todo Engenharia, construtoras do segmento comercial, desde 2008 desenvolvem projetos em BIM. A Gafisa, focada no residencial, deu in�cio em 2010 a um projeto piloto para implantar o novo processo em todos os empreendimentos da empresa at� 2013. Por�m, al�m dos benef�cios t�cnicos, quais ser�o os impactos da nova forma de projetar e construir sobre o neg�cio das construtoras e incorporadoras?
De acordo com Maria Ang�lica Covelo, diretora da consultoria NGI - N�cleo de Gest�o e Inova��o, o primeiro - e maior - deles ser� a integra��o dos procedimentos dentro das empresas. O BIM muda a forma como se relacionam as �reas de projetos, planejamento, or�amentos e canteiro. "Hoje esses processos s�o sequenciais. Quando a empresa opera com o BIM, passa a fazer tudo isso quase simultaneamente", diz Maria Ang�lica. "O BIM � uma simula��o da realidade e essa simula��o acontece do ponto de vista f�sico, de projeto, de custo e de prazo, tudo ao mesmo tempo". Para a consultora, as empresas ter�o de fazer um esfor�o gerencial para mobilizar todas as equipes mais cedo e coordenar os diferentes processos paralelamente.
Fica evidente que uma vis�o sist�mica do processo produtivo ser� chave para os profissionais envolvidos. A Gafisa, nos �ltimos anos, reestruturou a gest�o de seus projetos justamente para permitir um olhar mais abrangente. Conforme explica Alexandre Regis de Oliveira, gerente t�cnico da construtora, "muitas vezes decis�es eram tomadas pela �rea de projetos, depois de lan�ado o empreendimento, sem ter a vis�o do quanto isso impactava o custo, que j� estava formatado", diz. A fim de melhorar a integra��o entre as duas �reas, a Gafisa criou a figura dos donos de projeto, uma dupla de engenheiro e arquiteto que, juntos, s�o respons�veis pela coordena��o dos empreendimentos. "Para o BIM, essa organiza��o foi extremamente importante. A dupla tem que saber como parametrizar um objeto no projeto porque, depois, ela mesma vai precisar dessa informa��o no custo", complementa o gerente.
Al�m de alterar a rela��o entre processos, o BIM modifica profundamente as etapas de elabora��o dos pr�prios projetos, na medida em que boa parte das informa��es que s� seriam detalhadas no projeto executivo passa a ser necess�ria j� na concep��o do empreendimento. "Normalmente no in�cio do projeto se tem um prazo curt�ssimo, e depois um prazo um pouco mais longo para o desenvolvimento do executivo. A tend�ncia � que isso se inverta", afirma o arquiteto Luiz Fernando Sabino, coordenador de projetos executivos da Wilson Marchi EGC Arquitetura.
No geral, a evolu��o do projeto deve acontecer de forma mais simult�nea, mas as fases de desenvolvimento ainda n�o est�o claras para a maioria das empresas. Na M�todo, a solu��o tem sido definir, junto com os projetistas de cada empreendimento, o que vai ser desenvolvido em cada etapa, qual � o grau de detalhamento desejado e quais ser�o as informa��es necess�rias. "Isso tem que ser combinado em uma reuni�o para que o fluxo de informa��es corra bem durante todo o processo", aconselha Joyce Delatorre, coordenadora do n�cleo BIM da construtora.
Essas mudan�as acabam impactando tamb�m a forma de contrata��o dos pr�prios projetistas. "Hoje nosso modelo de contrata��o � baseado nas etapas de projeto. Os projetistas t�m um escopo definido em contrato, ou seja, os produtos que eles t�m que entregar em cada uma das etapas, e eles s�o remunerados em fun��o dessas entregas", diz Maria Ang�lica. "� medida que essas etapas mudem, vai mudar a forma de contrat�-los." A expectativa � que todos os projetistas entrem no projeto um pouco mais cedo, por�m as alternativas para o modelo de contrata��o ainda n�o est�o claras, segundo os entrevistados.
Menos incerteza, mais possibilidades
Um dos departamentos mais impactados pelo BIM ser�, certamente, o de or�amentos. A extra��o de quantitativos do projeto, hoje feita manualmente e com margens flex�veis de erro, passa a ser feita de forma autom�tica: uma vez que o modelo param�trico esteja pronto, o pr�prio software gera a lista de materiais. Significa que o processo de or�amenta��o vai se tornar muito mais r�pido e assertivo. Especialmente para as empresas de constru��o que participam de concorr�ncias, isso vai permitir maior precis�o na elabora��o da proposta t�cnico-comercial. "Como nessas empresas a margem � muito pequena, a precis�o que o BIM confere ao or�amento e ao planejamento � fundamental para a pr�pria sobreviv�ncia da construtora", afirma Maria Ang�lica Covelo.
Mesmo para as incorporadoras, "as margens de lucro est�o cada vez mais apertadas, principalmente no mercado de habita��o de interesse social. Garantir que tudo v� ocorrer conforme o esperado � muito importante", afirma Eduardo Toledo, professor doutor do departamento de engenharia de constru��o civil da Poli-USP. O aumento da assertividade no or�amento pode at� permitir que as empresas reduzam suas reservas de conting�ncia, ou seja, a verba reservada para cobrir poss�veis desvios or�ament�rios. � o que espera a Gafisa, segundo o gerente t�cnico Ewerton Bonetti: "A empresa vai reduzir a possibilidade do erro no levantamento, vai diminuir a incerteza. Por conta disso, poderemos reduzir nosso percentual de conting�ncia".
Al�m disso, a automatiza��o da tarefa bra�al do levantamento de quantitativos vai liberar os profissionais de or�amentos para um trabalho muito mais anal�tico: pensar em estrat�gias construtivas e alternativas tecnol�gicas que melhorem o desempenho de cada obra. Esse � outro impacto importante do BIM: ele aumenta as possibilidades de experimenta��o, tanto no or�amento como na concep��o do produto.
"A empresa vai conseguir fazer mais simula��es da realidade e n�o apenas adotar uma solu��o porque n�o d� tempo de explorar outras", afirma Maria Ang�lica. "Ela vai ter mais agilidade para estudar alternativas, seja de projeto, de concep��o de produto, de implanta��o no terreno, de execu��o da obra etc." A consultora acrescenta que, para as incorporadoras, essa flexibilidade pode resultar em maior agilidade nos lan�amentos, at� porque com os processos automatizados as equipes de concep��o de produtos devem ganhar produtividade.
Na outra ponta do processo, o BIM tende ainda a diminuir o prazo atual das obras. Com a compatibiliza��o dos projetos das v�rias disciplinas feita no modelo 3D, grande parte dos erros que seriam descobertos somente durante a execu��o � eliminada, reduzindo as chances de paralisa��es e atrasos. Al�m disso, a possibilidade de simular a sequ�ncia construtiva no modelo ajuda a tornar o planejamento mais eficiente e a otimizar a log�stica do canteiro.
"A obra vai andar de maneira muito mais fluida, os materiais ser�o entregues na hora certa, no lugar certo, � uma constru��o bem planejada e a tend�ncia � que se tenha uma execu��o mais curta", avalia Lucio Soibelman, professor do departamento de engenharia civil e do meio ambiente da Carnegie Mellon University, nos Estados Unidos. Maria Ang�lica acrescenta que, do ponto de vista financeiro, a redu��o dos prazos � extremamente bem-vinda: "No passado n�o havia interesse em reduzir o ciclo, porque o fluxo de dinheiro era muito desfavor�vel. Hoje se vende mais r�pido e, com o empreendimento vendido, o interesse maior � terminar logo a obra, principalmente se houver repasse".
BIM com prop�sito
Apesar das boas perspectivas, algumas dessas mudan�as n�o ser�o t�o n�tidas no curto prazo. Hoje, mesmo as poucas construtoras que j� trabalham com o BIM ainda n�o o fazem de forma plena. Na pr�tica, a integra��o entre projetos, or�amentos, planejamento e obra ainda n�o est� completa e o mercado deve levar algum tempo para evoluir nesse sentido.
Implantar o BIM exige, antes de mais nada, gastos expressivos tanto com as licen�as dos softwares e treinamento dos usu�rios, quanto com computadores mais potentes. A Matec investiu R$ 560 mil somente na implanta��o na �rea de projetos, envolvendo o custo da licen�a do software, treinamento, consultoria e as horas de trabalho dos funcion�rios que ficaram afastados da produ��o durante o treinamento. A empresa garante que o investimento se pagou apenas com as economias obtidas na verifica��o de interfer�ncias do primeiro empreendimento desenvolvido na plataforma. J� a M�todo Engenharia calcula que os gastos tenham atingido, entre 2008 e 2010, a soma de R$ 300 mil, contabilizando software, hardware e treinamento. A construtora ainda n�o mensurou os resultados.
Al�m disso, a implanta��o requer uma defini��o clara das necessidades de cada incorporadora, segundo o professor Lucio Soibelman: "O objetivo do BIM � melhorar o processo de como a empresa gerencia suas obras. E isso depende dos objetivos da empresa". Ele cita o exemplo dos Estados Unidos, onde o principal motivo para o uso do sistema tem sido a compatibiliza��o dos projetos, j� que a maioria dos empreendimentos desenvolvidos em BIM � de grandes obras, com sistemas mec�nicos, hidr�ulicos e el�tricos complexos.
J� no Brasil, embora a compatibiliza��o seja importante, h� outras vari�veis que motivam a implanta��o do BIM, segundo ele. "Como no Brasil se vende muito em planta, o or�amento tem que ser perfeito e por isso a extra��o de quantitativos � muito importante", comenta Soibelman. Ele aponta tamb�m que, devido � necessidade de controlar a qualidade, as empresas brasileiras est�o come�ando a padronizar seus projetos. O BIM facilita este trabalho. Existem softwares que fazem a checagem do modelo, ou seja, conferem se o projeto segue regras estabelecidas pela construtora.
Em suma, apesar das incont�veis possibilidades abertas pelo BIM, a receita da implanta��o n�o � �nica em cada companhia. "A empresa tem que, primeiro, encontrar um objetivo, decidir o que � importante para ela, e a partir da� definir um conjunto de softwares que v�o implementar essa vis�o", ensina Soibelman. "� um quebra-cabe�a que se monta de acordo com os objetivos da construtora."
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